1
A chuva caía lá fora e eu ficava cada vez mais insegura. A dor e o medo se tornaram presentes, os corredores eram frios e minha cabeça delirou em tal pavor.
Conforme o vento batia na janela, a vidraça rangia e meu cerébro não tinha controle sobre a tremedeira que se encontrava meu corpo. Meu coração por pouco não voava do peito e as dores da alma eram quase onipresentes.
Tentei levantar, mas meu corpo parecia pesado de mais para tal agilidade e tudo o que aconteceu foi um barulho da madeira solta no chão do meu quarto. A única coisa que pude fazer, foi ficar ali, jogada, num canto qualquer de um quarto qualquer da maldita casa.
Um raio cortou o céu e o grito rasgou minha garganta. Sem vizinhos, sem moradores na casa...
Eu estava sozinha.
2
"Por que esta fazendo isso?" Gritei para o nada no enorme corredor sombrio.
A resposta foi simultanea, um assoviu.
Não iria soltar a faca, não sei o motivo, mas senti que iria usá-la. Era quase inconsciente de que devia ficar com ela.
"Faça, faça" algo dizia em minha cabeça.
Corri escada acima com um medo enorme de cair e acabar ali, para sempre, sem ninguém saber de minha existência.
Um cheiro de lavanda invadiu o ar, e senti minhas forças acabar. Lavanda, a essência.
"Faça, faça" quando a faca estava contra meu peito.
Mas fazer o que?
Por fim eu descobri, a tempo eu percebi.
"Claro" eu falei, nenhuma resposta, eu sorri.
"Lavanda", eu menti.
3
O balcão estava empoeirado, os vidros mais ainda, eu jamais saberia qual era o de Lavanda, eu jamais reconheceria quaisquer que fossem os cheiros.
Foi então que ele veio, o medo.
Fui agarrar um dos muitos frascos que haviam ali dentro, e a pouca firmeza que havia em minhas mãos, fez com que um grande desastre acontecesse:
Todos vidros se quebraram.
4
As árvores balançavam de um lado para o outro, e o relógio quase batia 03:00 da manhã.
Meu coração estava mais calmo, mas minha mente estava em turbilhão.
A luz acabou, essa não, lá viriam momentos de tensão.
Apertei a faca em minha mão, senti o sangue escorrer. Merda.
Eu não gritei, não falei, apenas corri escada abaixo, de volta ao ínicio.
5
Estavam dando socos em volta da casa, eu pudia senti-lá tremer.
O que quer que estivesse lá fora, alguma coisa queria me dizer.
Ou talvez só quisesse que eu morresse de medo, de tais atos inesperados, ou não tão inesperados assim.
Um som de piano apareceu. Eu conhecia a canção. Triste, esquecida, inacabada.
Não sabia o que eles queriam, mas as batidas se intensificavam.
"Parem" eu pedi, mas eles não se calaram.
6
Comecei a sentir que iria morrer, assim que ouvi os passos deles invadindo meu quarto. Eu estava acocada, entre a cama e o guarda-roupa.
Eles tinham visão noturna? Porque com a escuridão, eles não podiam me enxergar. Mas conseguia ver a silhueta deles, eram três. Dois homens em uma mulher.
A música cessou, meu pânico continuou.
E a mulher, com um longo vestido, que mais parecia um trapo, pela sombria que via, deslizou os dedos entre a estante.
"A mulher de marrom" eu sussurrei.
Pude perceber as cabeças virarem em minha direção.
"Bem-vinda, querida" a mulher disse, e eu, com o desespero, desmaiei.
7
"Você esta em casa" ouvi ele dizer. E por um segunda não soube o que fazer.
"Onde estou?" Lhe perguntei.
"Você em breve estara comigo" ele disse, eu suspirei.
Enquanto encarava seu rosto, a paisagem era bonita, um campo, florido e cheio de margaridas. Minha flor preferida.
"Agora você vai embora" ele disse, soltando sua mão, que só então percebi, estava entrelasçada na minha.
"Por que?" chorei a pergunta.
"Você pecou".
8
Acordei estirada entre a cama e o guarda-roupa, em um tipo de escuridão esquisita.
Parecia algo como uma noite preta e branca.
Imagem preta e branca, eu pude perceber.
"Já acordou, sua fraca?" Uma voz grave perguntou, e eu não conseguia mexer minhas mãos.
Uma dor que parecia eterna.
"Vem, vamos levá-la" disse a mulher.
Senti meu coração gelar. Na verdade, eu quase nem conseguia sentir meu corpo, só sentia dor. Como se eu fosse feita dela.
"Levar para aonde?" Eu perguntei, a voz fraca, como se não falasse a anos.
O segundo homem levantou meus dois braços na visão de meus olhos.
Os dois pulsos cortados, espirrando sangue para todos os lados.
"Eu... Eu..."
"Você morreu".
"Se matou" corrigiu a mulher.
"Para onde vou agora?" Perguntei, lembrando do lindo lugar onde sonhara estar na hora de minha morta.
"Pagar os seus pecados, depois, esta livre"
"Por quanto tempo?" Tive medo da resposta, que custou a vir.
"Eu não sei. Talvez para sempre".
FIM
A chuva caía lá fora e eu ficava cada vez mais insegura. A dor e o medo se tornaram presentes, os corredores eram frios e minha cabeça delirou em tal pavor.
Conforme o vento batia na janela, a vidraça rangia e meu cerébro não tinha controle sobre a tremedeira que se encontrava meu corpo. Meu coração por pouco não voava do peito e as dores da alma eram quase onipresentes.
Tentei levantar, mas meu corpo parecia pesado de mais para tal agilidade e tudo o que aconteceu foi um barulho da madeira solta no chão do meu quarto. A única coisa que pude fazer, foi ficar ali, jogada, num canto qualquer de um quarto qualquer da maldita casa.
Um raio cortou o céu e o grito rasgou minha garganta. Sem vizinhos, sem moradores na casa...
Eu estava sozinha.
2
"Por que esta fazendo isso?" Gritei para o nada no enorme corredor sombrio.
A resposta foi simultanea, um assoviu.
Não iria soltar a faca, não sei o motivo, mas senti que iria usá-la. Era quase inconsciente de que devia ficar com ela.
"Faça, faça" algo dizia em minha cabeça.
Corri escada acima com um medo enorme de cair e acabar ali, para sempre, sem ninguém saber de minha existência.
Um cheiro de lavanda invadiu o ar, e senti minhas forças acabar. Lavanda, a essência.
"Faça, faça" quando a faca estava contra meu peito.
Mas fazer o que?
Por fim eu descobri, a tempo eu percebi.
"Claro" eu falei, nenhuma resposta, eu sorri.
"Lavanda", eu menti.
3
O balcão estava empoeirado, os vidros mais ainda, eu jamais saberia qual era o de Lavanda, eu jamais reconheceria quaisquer que fossem os cheiros.
Foi então que ele veio, o medo.
Fui agarrar um dos muitos frascos que haviam ali dentro, e a pouca firmeza que havia em minhas mãos, fez com que um grande desastre acontecesse:
Todos vidros se quebraram.
4
As árvores balançavam de um lado para o outro, e o relógio quase batia 03:00 da manhã.
Meu coração estava mais calmo, mas minha mente estava em turbilhão.
A luz acabou, essa não, lá viriam momentos de tensão.
Apertei a faca em minha mão, senti o sangue escorrer. Merda.
Eu não gritei, não falei, apenas corri escada abaixo, de volta ao ínicio.
5
Estavam dando socos em volta da casa, eu pudia senti-lá tremer.
O que quer que estivesse lá fora, alguma coisa queria me dizer.
Ou talvez só quisesse que eu morresse de medo, de tais atos inesperados, ou não tão inesperados assim.
Um som de piano apareceu. Eu conhecia a canção. Triste, esquecida, inacabada.
Não sabia o que eles queriam, mas as batidas se intensificavam.
"Parem" eu pedi, mas eles não se calaram.
6
Comecei a sentir que iria morrer, assim que ouvi os passos deles invadindo meu quarto. Eu estava acocada, entre a cama e o guarda-roupa.
Eles tinham visão noturna? Porque com a escuridão, eles não podiam me enxergar. Mas conseguia ver a silhueta deles, eram três. Dois homens em uma mulher.
A música cessou, meu pânico continuou.
E a mulher, com um longo vestido, que mais parecia um trapo, pela sombria que via, deslizou os dedos entre a estante.
"A mulher de marrom" eu sussurrei.
Pude perceber as cabeças virarem em minha direção.
"Bem-vinda, querida" a mulher disse, e eu, com o desespero, desmaiei.
7
"Você esta em casa" ouvi ele dizer. E por um segunda não soube o que fazer.
"Onde estou?" Lhe perguntei.
"Você em breve estara comigo" ele disse, eu suspirei.
Enquanto encarava seu rosto, a paisagem era bonita, um campo, florido e cheio de margaridas. Minha flor preferida.
"Agora você vai embora" ele disse, soltando sua mão, que só então percebi, estava entrelasçada na minha.
"Por que?" chorei a pergunta.
"Você pecou".
8
Acordei estirada entre a cama e o guarda-roupa, em um tipo de escuridão esquisita.
Parecia algo como uma noite preta e branca.
Imagem preta e branca, eu pude perceber.
"Já acordou, sua fraca?" Uma voz grave perguntou, e eu não conseguia mexer minhas mãos.
Uma dor que parecia eterna.
"Vem, vamos levá-la" disse a mulher.
Senti meu coração gelar. Na verdade, eu quase nem conseguia sentir meu corpo, só sentia dor. Como se eu fosse feita dela.
"Levar para aonde?" Eu perguntei, a voz fraca, como se não falasse a anos.
O segundo homem levantou meus dois braços na visão de meus olhos.
Os dois pulsos cortados, espirrando sangue para todos os lados.
"Eu... Eu..."
"Você morreu".
"Se matou" corrigiu a mulher.
"Para onde vou agora?" Perguntei, lembrando do lindo lugar onde sonhara estar na hora de minha morta.
"Pagar os seus pecados, depois, esta livre"
"Por quanto tempo?" Tive medo da resposta, que custou a vir.
"Eu não sei. Talvez para sempre".
FIM
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