domingo, 19 de fevereiro de 2012

•Lágrimas do Paraiso


Era mais um dia de inverno enquanto Mirella corria pelo campo congelado e escorregadio. Na primavera o campo era florido com grandes borboletas sobrevoando sobre ele, mas agora, era frio e solitário, assim como Mirella se sentia.
Estava começando a nevar novamente quando a garota de cabelos loiro-platinado sentiu seus joelhos cederem na neve fofa, soltou um gemido rouco e baforejou no ar, vendo-o virar fumaça. E ainda que fosse muito pouco, ela conseguia escutar os gritos de sua mãe chamando por ela... Lá longe na minuscula casinha... Mas soavam apenas como ecos... Ecos que não voltariam mais.
Mamãe... —sussurrava mais como um pedido de socorro para si mesma, tudo o que desejava era acordar daquele sonho maluco. Barulho de pegadas rápidas em sua direção a fizeram levantar do chão e olhar para todos os lados em um ato desesperado.
Haviam lágrimas em seus olhos, mas ela sabia muito bem que não havia tempo para chorar, não havia tempo para correr, apenas para se camuflar com a neve, o que para ela parecia impossivel.
Entrou em desespero ao conseguir ver a silhueta de um homem enorme, pelo menos perto dela, uma garota tão pálida de olhos azuis, tão magra que seus ossos eram visiveis ao longe. Começou a andar para trás de maneira cuidadosa. Ele não enxergava muito bem, mas tinha a audição bem aguçada.
As palavras do homem antes de ela conseguir fugir de suas garras, ecoavam em sua mente:

Não sei se estou certo
Mas a vida me dói
Não sei se é correto
Mas a verdade me corrói”

Mirella conseguiu criar forças e correr ofegante em meio as arvores fugindo do campo e chegando até o lago congelado, a cada vez que o vento batia em suas bochechas coradas eram como se cortasse em pequenos filetes, e talvez tivesse cortado de verdade.
Ela não sabia o porquê de o homem querer matar ela de repente, na verdade ela nem sabia de onde ele havia aparecido, ele simplesmente surgira no quintal de sua casa minima, enquanto o seu pai estava trabalhando na cidade, a quilometros de distância. Ele usava uma jaqueta de couro e jeans escuro, com um chapéu tão negro quanto os olhos, estava com uma faca de cortar carne na mão direita e uma cruz de madeira pequena na mão esquerda.
Ele queria matá-la, estava na cara que queria.
Seu mundo parou quando ela viu ele em sua frente, beijando levemente a cruz.
Quando vocês irão perceber que não dianta fugir? Que eu sempre, sempre, vou pegar vocês, onde quer que vão, onde quer se esconderão... —O homem disse com a voz rouca.
Mirella caiu mais uma vez de joelhos, mas dessa vez, por uma pressão muito forte acertar sua cabeça, um mal-estar horrivel.
O- O que...Você quer... De mim? —Ela perguntou ofegante com toda dificuldade que tinha em se expressar naquele momento.
A neve caía lentamente das nuvens negras, tão negras que já não se sabia se era uma tarde qualquer ou uma noite sombria.
Estou apenas fazendo meu trabalho. Ou você pensa que seu pai mereceu os seus planos? O julgamento superior é o único válido, o julgamento de uma simples mortal, não interfere em nada, um mortal não pode decidir quem vive ou quem morre.
Mas ele matou minha mãe —ela soltou apertando a neve em suas mãos, a fazendo derreter.
E você desconhece os motivos —ele explicou, caminhando lentamente e se agachando perto dela—ninguém decide quem vive ou quem morre, criança.
Ela sentiu sua respiração parar quando ele passou a faca em seu rosto, do lado contrário,sem cortar.
Então por que irá me matar?
Porque agora seu pai esta morrendo com o veneno que você colocou na comida dele, as coisas são assim, querida —ele colocou uma mecha loira para trás da orelha da garota e acariciou seu rosto com cuidado.
Ela lhe olhou com cuidado, a barba rala do homem era branca, revelando idade avançada.
Então ele está morrendo?
Daqui a 2minutos ele vai partir definitivamente.
Isso é um julgamento? Como sabe que fiz isso, como sabe tanto de nossa vida?
Sou digamos um justiceiro de algo superior, um ceifador talvez, sou humano, mas meu pacto me mantem vivo. Uma vida por outra, será sempre assim.
Dois minutos haviam se passado e já não havia mais o que falar, o homem desconhecido que se denominava “ceifador”, pegou a faca e cravou no peito da garota inocente de cabelos platinados e olhos azul lago.
A garota viu a faca vindo na direção do seu coração e nada fez para impedi-lo, ela sabia que a essa hora seria impossivel impedir sua morte, e ela a recebia de peito aberto. Teria paz, ao lado de sua mãe... Esperava que tudo desse certo. Duas lágrimas cairam de seus olhos, lágrimas para ela ter passagem livre para o paraíso. A faca acertou seu peito em cheio e nada ela apenas sorriu, enquanto a dor penetrava, quando a faca atravessou seu peito ela já não viu mais nada, apenas escutou a frase: “Uma vida por outra”. Ela sentia-se bem por ter sacrificado sua vida mediucre, aquela vida.
Uma vida por outra... Ninguém decide quem vive ou quem morre, muito menos um mortal...

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